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Coração sem Limites
CORAÇÃO SEM LIMITES
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Trabalho com Madame de Salzmann
Ravi Ravindra - 320 páginas - edição encadernada - R$ 109,00
85.86204-05-6

(leia um trecho)

Coração sem Limites, uma compilação de extratos dos diários de Ravi Ravindra, deixa entrever o ensinamento extraordinário de Madame Jeanne de Salzmann. Os relatos de Ravindra de suas reuniões, cartas e encontros com Madame de Salzmann são profundamente íntimos, no entanto, não são meramente pessoais. Suas questões, dúvidas e percepções não são diferentes das nossas próprias. Nessas recordações de um aluno, ouvimos a voz de Madame de Salzmann; a clareza de sua percepção e a força de seu insight são evidentes do princípio ao fim. Existem três forças - do corpo, da mente e do sentimento. A não ser que elas estejam juntas, igualmente desenvolvidas e harmonizadas, uma conexão estável não pode ser estabelecida com uma força mais alta. Tudo no Trabalho é uma preparação para essa conexão. Esse é o objetivo do Trabalho.

A energia mais alta deseja mas não pode descer ao nível do corpo a não ser que trabalhemos. Somente trabalhando você pode cumprir com o seu propósito e participar na vida do cosmos. Isso é o que pode dar sentido e significado para a sua vida. Caso contrário, você existe apenas para si mesmo, egoisticamente, e não há sentido para a sua vida.
Jeanne de Salzmann




Ravi RavindraRavi Ravindra


Ravi Ravindra nasceu na Índia e lá recebeu sua educação inicial. Desde 1966 vive no Canadá e é atualmente professor e chefe de Departamento de Religiões Comparadas e professor-adjunto de Física na Dalhousie University em Halifax, Nova Scotia. Já há muitos anos tem sido um estudioso do ensinamento de Gurdjieff e trabalhou diretamente com Madame de Salzmann durante a última década da vida dela.





Jeanne de Sazmann
Copyright 1990 David Sailors, NY

Jeanne de Salzmann

Jeanne de Salzmann foi a companheira mais próxima de Gurdjieff durante muitas décadas e após a morte dele, em 1949, tornou-se a responsável espiritual pelo Trabalho. Ela desempenhou essa responsabilidade com notável energia e criatividade até 1990 quando veio a falecer, então com a idade de 101 anos. Sob sua liderança foram estabelecidas as fundações Gurdjieff, as conexões entre os grupos foram fortalecidas e os escritos de Gurdjieff foram publicados. Sob sua orientação foram produzidos o filme Encontros com Homens Notáveis, dirigido por Peter Brook, e uma série de outros documentando os exercícios e danças sagradas. Como mestre espiritual, Jeanne de Salzmann demonstrava uma conexão com energias sutis enquanto ela chamava e inspirava os alunos para trabalhar a fim de cumprirem com suas responsabilidades humanas.

 

 

TRECHO DO LIVRO

Introdução

A Madame Jeanne de Salzmann foi dada a responsabilidade pelo Trabalho por Gurdjieff antes de sua morte em 1949. Ela cumpriu suas obrigações com uma inteligência e um vigor extraordinários até sua morte, em 1990, com a idade de 101 anos. Entre outras coisas foi responsável pela publicação dos livros de Gurdjieff, pela produção de vários filmes sobre os movimentos e do filme Encontros com Homens Notáveis , dirigido por Peter Brook. Ela orientou o estabelecimento das fundações Gurdjieff em Paris, Londres e Nova York. Entretanto, sua contribuição mais importante foi a de conduzir muitos alunos para um novo nível de compreensão.

O meu próprio contato com o Trabalho foi através da sra. Louise Welch, a quem conheci em Nova York em 1968. Ela tornou-se minha orientadora no Trabalho e, logo a seguir, minha mãe espiritual. Por sua vez, nos anos 20, ela fora uma aluna de A. R. Orage e depois de Gurdjieff e Madame de Salzmann. A sra. Welch levou-me para assistir a uma classe de movimentos na Fundação Gurdjieff em Nova York em 1971. Ao término desta apresentou-me a Madame de Salzmann. Quase uma década depois a sra. Welch recomendou que eu trabalhasse com Madame de Salzmann, a quem escreveu em meu favor. Fui vê-la em Paris em fevereiro de 1980. Ocasionalmente eu tinha visto Madame de Salzmann nos grupos do Trabalho em Nova York e havia me encontrado com ela em particular algumas vezes durante os vários anos anteriores. Contudo, durante a década seguinte, encontrei-me com ela muitas vezes, tanto pessoalmente quanto nos grupos do Trabalho, sobretudo em Paris, algumas vezes em Nova York e ocasionalmente em Londres. Não era fácil estar em sua presença; com ela, mais do que em qualquer outro lugar, freqüentemente senti minha nulidade, embora nunca tenha me sentido diminuído. Pelo contrário, ela evocava sempre esperança e inspiração. O seu ser chamava-me para uma existência autêntica e demonstrava a possibilidade desta.

Em 1986, depois da morte de J. Krishnamurti, escrevi uma pequena obra baseada em anotações de diário dos meus encontros com ele. A sra. Welch apreciou bastante essa leitura e perguntou-me se eu poderia escrever algo sobre Madame de Salzmann. A princípio resisti totalmente a essa tarefa, se não por outro motivo, pelo fato de que meus diários continham muito mais anotações sobre os encontros com Madame de Salzmann do que sobre aqueles com Krishnamurti. No entanto, escrever ou não sobre meu trabalho com Madame de Salzmann não parecia ser uma questão de escolha pessoal. Comecei reunindo todas as minhas anotações de diário em que Madame de Salzmann era mencionada. No fim de 1986 fui capaz de enviar para o dr. e senhora Welch todas as anotações relevantes. Eles se mostraram muito interessados e encorajaram-me a continuar.

O material aqui reunido baseia-se em anotações de diário durante o período de 1971 a 1990. Estas anotações não se destinavam a publicação ou leitura de qualquer outra pessoa senão eu mesmo. Freqüentemente em uma forma muito abreviada ou mnemônica, destinavam-se a ser lembretes para mim mesmo daquilo que tinha atraído minha atenção em diferentes momentos e locais, algumas vezes num estado de consciência mais límpido que o meu estado usual. As anotações relativas aos encontros com Madame de Salzmann estão espalhadas entre apontamentos sobre vários tópicos, incluindo antigos versos sânscritos dos Vedas e exercícios que tratam das complexidades da gramática francesa, ou impressões da admirável catedral de Chartres e reações subjetivas negativas a alguma coisa ou alguém. Comecei reunindo e editando os apontamentos de várias anotações para retirar detalhes excessivamente pessoais e juntar algumas recordações coerentes que pudessem ser lidas em voz alta. O dr. Welch leu pela primeira vez alguns desses apontamentos na Fundação Gurdjieff em Nova York, em 1990. Ele me telefonou com a notícia animadora de que algumas pessoas pensaram que esses apontamentos fossem traduções da agenda de Madame de Salzmann.

O que deixarei aqui exposto é essencialmente o que constava em meus diários. Embora não tenha sido mantida uma ordem estritamente cronológica, há uma seqüência histórica mais ou menos delineada. As datas e locais das anotações do diário, que em geral coincidem com as datas e locais dos encontros, estão indicados no final de cada capítulo. Tentei ser fiel a uma lógica de sentimento mais do que à gramática e à sintaxe. O interesse aqui é menos o de colocar as palavras de Madame de Salzmann num inglês correto ou elegante e mais o de preservar a sua voz.

As recordações relatadas nesta obra não estão baseadas em gravações. Portanto, não se pode estar seguro, exceto no caso de algumas cartas de seu próprio punho, que estas sejam as palavras precisas de Madame de Salzmann. O que expressamos aqui é a maneira pela qual a mente e o coração, de um dos seus muitos alunos, ressoaram ao que ele ouviu na sua presença. Todas as anotações dos diários foram feitas tão logo após a reunião quanto possível, algumas vezes passados poucos minutos do seu término, mas outras vezes com uma demora de aproximadamente um dia. Também é preciso estar ciente de que o que foi dito tinha significado apenas para aquela ocasião e para a pessoa que estava lá, e pode não ter aplicabilidade geral. Os leitores terão de decidir o que é relevante para a sua própria situação.

Muitas destas recordações foram lidas por várias pessoas mais antigas no Trabalho, algumas das quais tinham ouvido Madame de Salzmann durante muitas décadas e haviam trabalhado com ela muito de perto. Suas respostas foram tranqüilizadoras. Desejo expressar uma gratidão especial ao dr. Michel de Salzmann por ler cuidadosamente o manuscrito e fazer numerosas sugestões proveitosas. Entretanto a única responsabilidade pela apresentação de tudo o que está incluído aqui é minha. Deve-se supor que alunos diferentes foram diferentemente impressionados pela extraordinária presença e ensinamento de Madame de Salzmann e, transmitindo suas impressões, cada um naturalmente realçará aquilo que foi mais significativo e útil para si.

Espera-se que alguns leitores encontrem aqui sustento para a sua busca. Um caminho espiritual se parece mais com uma trilha do que com uma rodovia federal. A menos que muitos viajantes trilhem o caminho, ele ficará coberto de mato e ervas daninhas e desaparecerá para futuros peregrinos. Este relato das anotações é oferecido a todos os buscadores que se sentem obrigados a ajudar a manter o caminho aberto.

Obviamente houve muitas anotações que não puderam ser relatadas aqui simplesmente porque são demasiado pessoais ou íntimas ou passíveis de ser mal compreendidas sem um grande número de explicações.

Ficará evidente a partir destas recordações que Madame de Salzmann era extremamente generosa com seu tempo, energia e atenção. Não poderia haver nada pessoal nisto. Qualquer trabalho espiritual sério não é nem o do professor nem o do aluno; é sempre um trabalho objetivo no qual ambos participam. Naturalmente ele se expressa através da maneira de ser particular do professor e do aluno, mas a busca é sempre em direção a uma clareza de percepção de modo que as energias subjetivas e os talentos possam servir àquilo que é real