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O Macaco Peregrino
MACACO PEREGRINO OU A SAGA AO OCIDENTE
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traduzido do chinês por Arthur Waley
Wu Ch'êng-ên - 512 páginas - edição brochura - R$ 87,00
85.86204-04-6

(leia o que foi publicado a respeito deste livro)

(leia um trecho)

O SI YEOU KI é um romance construído em torno de um fato histórico: a viagem que faz para a Índia o monge budista Hsüan Tsang, para de lá trazer os livros sagrados do budismo. Este monge, de uma santidade reconhecida por seus superiores, deixou a China em 629 e, através de Ku Cheu, Karachar, Samarkand e muitos outros lugares, chegou ao Gandhara.

Visitou quase toda a Índia, indo de mosteiro em mosteiro, detendo-se nos lugares visitados pelo Buda. Ele regressou à China em 645 depois de uma ausência de quinze anos, carregado de livros e de relíquias. Passou o resto de sua vida traduzindo os livros trazidos e conferiu assim ao budismo uma terminologia que permanecerá própria dele: os primeiros pregadores budistas haviam empregado, por falta de outra, a terminologia taoísta, dando a entender assim que o budismo era um ramo destacado do taoísmo.

O SI YEOU KI, atribuído inicialmente a um ministrante taoísta - porque também este havia realizado uma viagem à Índia -, foi em seguida reconhecido como sendo, indubitavelmente, a obra de Wu Ch'êng-ên, escritor famoso que o Imperador recompensou confiando-lhe as funções de adjunto na subprefeitura de Ch'ang Hing. Ignoram-se a data e o local de sua morte. Seu livro, surgido por volta de 1550, teve e tem sempre ainda um sucesso considerável: ele não cessou até hoje de ser reeditado e encenado. Sucesso merecido, aliás, por um estilo expressivo, personagens vivamente coloridos e um humor infatigável que salpica os piores dramas.
A trama deste célebre romance chinês é constituída por um relato histórico: o da incrível caminhada realizada no início do século VII pelo monge Hsüan Tsang, que viajou para a Índia com a finalidade de buscar as Escrituras Sagradas do budismo.

Wu Ch'êng-ên, que viveu entre 1505 e 1580, retomou, adicionando seu próprio toque de delicadeza e humor, o ciclo de lendas que floresceram durante séculos em torno da peregrinação de Hsüan Tsang, chamado Tripitaka neste romance. O resultado é uma mistura atraente de absurdo e profundidade, religião e história, sátira antiburocrática e poesia pura. Enquanto a história conta a viagem de Tripitaka para a Índia e o que acontece nesse percurso, seu verdadeiro tema é a peregrinação do homem através da vida, com os companheiros Macaco, Porcoso e Areioso, simbolizando os diversos elementos da natureza humana.

Divertido e muito agradável, Macaco é uma mistura única em seu gênero de beleza e de absurdo, de profundidade e de tolice, de charme e de sabedoria.

Um clássico da literatura chinesa.






Wu Ch'êng-ên


Muito pouco se sabe a respeito de Wu Ch'êng-ên (1505-1580), embora seja dito que ele ocupou o posto de Magistrado de Distrito durante certo período de tempo. Possuía a reputação de ser um bom poeta, mas apenas alguns de seus versos bastante banais subsistem em uma antologia de poesia Ming e em um jornal local.


Arthur Waley C.B.E., F.B.S., foi uma autoridade notável em língua e literatura chinesa. Nasceu em 1889 e graduou-se nas universidades de Cambridge e Aberdeen. Foi homenageado muitas vezes durante sua vida por suas excepcionais traduções do chinês e em 1935 foi condecorado com a medalha da Rainha para poesia, a qual só é concedida com intervalos pouco freqüentes. Dr. Waley morreu em 1966. Suas numerosas publicações incluem 170 Chinese Poems, Japanese Poetry, The Tale of Genji (6 vols.), The Way and its Power, The Real Tripitaka e Yuam Mei.


Press Release

 

TRECHO DO LIVRO

Capítulo Primeiro

HAVIA outrora um rochedo que, desde a criação do mundo, tinha sido muito bem burilado pelas puras essências do Céu e os finos sabores da Terra, o vigor dos raios solares e a meiguice do clarão da lua; por fim, ele engravidou magicamente e, num belo dia, abrindo-se, deu à luz um ovo de pedra, mais ou menos do tamanho de uma bola de criança. Fecundado pelo vento, ele desenvolveu-se tornando-se um macaco de pedra, perfeitamente constituído, com todos os membros e órgãos internos.

Este macaco soube de imediato trepar e correr, mas seu primeiro ato foi fazer uma reverência a cada uma das quatro direções. Ao fazer isto uma luz de aço saiu como um dardo dos olhos do macaco e brilhou até o Palácio da Estrela Polar. Este dardo de luz surpreendeu o Imperador de Jade, quando ele estava sentado no Palácio das Nuvens com Portões de Ouro, no Salão do Tesouro das Brumas Sagradas, cercado por seus ministros celestes. Percebendo este clarão estranho, ordenou a Olho-de-Mil-Milhas e a Orelha-Bom-Vento que abrissem o portal do Céu do Sul para que ele pudesse ver o que se passava.

A seu pedido, nossos dois capitães atravessaram os portões e olharam de maneira tão penetrante, e escutaram de modo tão atento, que logo estavam aptos a relatar que esta luz de aço vinha do Monte das Flores e dos Frutos, nos limites do pequeno país de Ao-lai, situado a leste do Continente Sagrado; que nesta montanha havia um rochedo mágico que dera à luz um ovo, o qual se transformou em um macaco de pedra; e que quando este fez sua reverência às quatro direções, uma luz de aço dardejou de seus olhos com um raio que alcançou o Palácio da Estrela Polar. Porém, agora, o macaco estava saciando sua sede e o clarão estava diminuindo.

O Imperador de Jade acolheu esta notícia com condescendência.

— Estas criaturas do Mundo de Baixo — disse ele — são feitas da essência do Céu e da Terra e nada do que lhes sucede deveria nos surpreender.

Nosso macaco andava pelas colinas, correndo, saltando, pulando, mordendo as ervas e as moitas, bebendo nas fontes e nos regatos e colhendo as flores da montanha, procurando frutos. Lobos, tigres e panteras eram seus companheiros, gamos e gatos almiscareiros seus amigos, macacos-da-índia e babuínos seus semelhantes. Durante a noite ele se abrigava sob os penhascos do rochedo e, durante o dia, vagava pelas grutas ou sobre os cumes.

Numa manhã muito quente, após ter-se divertido à sombra dos pinheiros, ele foi em companhia de outros macacos banhar-se em uma torrente da montanha. Era bonito ver aquelas águas caírem em cascatas e saltar, como melões que rolam.

Há um velho ditado que diz: "Os pássaros têm sua linguagem de pássaros e os animais, seu falar de animais". Os macacos cogitaram então:

— Nenhum de nós sabe de onde vem esta torrente. Como não temos nada para fazer esta manhã, não seria divertido subi-la até sua fonte?

Com um grande grito de alegria, toda a tropa lançou-se ao longo da torrente, arrastando os macaquinhos pequenos e carregando as pequenas macacas, chamando os irmãos mais velhos e os mais novos, e treparam nas encostas íngremes até alcançarem a fonte da torrente. Lá, eles se encontraram diante da cortina de uma grande queda d'água.

Todos os macacos bateram palmas e gritaram:

— Oh! a bela água, a bela água! Pensar que ela vem de tão longe, de alguma caverna no fundo da montanha e que vai correndo até o Grande Mar! Ah! se um dentre nós fosse bastante corajoso para passar através desta cortina, atingir o lugar de onde brotam as águas, e voltar intacto, nós bem faríamos dele nosso rei!

Três vezes este apelo se fez ouvir, quando de repente pula da multidão alguém que, com voz firme, aceita o desafio. É o nosso Macaco de Pedra.

— Eu irei, eu — grita ele —, eu irei!

— Olhem para ele!

O Macaco cerrou um pouco os olhos e se inclinou; então, com um único salto, pulou através da cortina d'água. Quando abriu os olhos e olhou ao seu redor, ele percebeu que o lugar em que tinha aterrissado era perfeitamente seco. Uma grande ponte estendia-se diante dele, brilhando e cintilando. Aproximando-se, viu que ela era feita de ferro polido. A água, debaixo dela, escapava de um buraco do rochedo e preenchia todo o arco da ponte.

O Macaco trepou na ponte e, examinando os arredores, percebeu alguma coisa que lhe pareceu ser uma casa. E lá havia assentos de pedra, divãs de pedra, e sobre as mesas, tigelas e taças de pedra. Ele voltou saltitando até a curva da ponte e de lá viu sobre o penhasco uma inscrição em grandes caracteres quadrados que dizia: "Esta Gruta da Cortina d'Água, na Terra Abençoada do Monte das Flores e dos Frutos, conduz ao Céu". A alegria deixou nosso Macaco fora de si. Ele voltou rápido, inclinou-se de novo, fechou os olhos e saltou através da cortina d'água.

— Um acaso feliz! — exclamou ele. — Um feliz golpe de sorte!

— E como é do outro lado? — perguntaram os outros macacos, rodeando-o. — Será que a água é profunda?

— Não há água — respondeu o Macaco de Pedra. — Existe uma ponte de ferro e, ao lado dela, uma morada enviada pelo Céu, para que lá vivamos.

— E o que o faz crer que será bom lá viver? — perguntaram os outros macacos.

— A água — disse o Macaco de Pedra — sai de um buraco do rochedo e preenche todo o espaço sob a ponte. Ao lado da ponte existem flores e árvores e uma habitação de pedra. Dentro dela há mesas de pedra, copos de pedra, pratos de pedra, divãs de pedra, assentos de pedra. Nós teríamos lá, realmente, todo conforto. Há inúmeros quartos para milhares de centenas dentre nós, jovens e velhos. Vamos nos instalar lá; ficaremos magnificamente abrigados em todas as estações.

— Vá na frente e mostre-nos o caminho! — exclamaram os macacos, encantados.

Uma vez mais, eis que o Macaco fecha os olhos e atravessa com um salto a cortina d'água.

— Venham, sigam-me, corram, todos vocês!

Os mais ousados saltaram imediatamente; os mais tímidos estenderam primeiro o pescoço, depois, trazendo a cabeça de volta, coçaram a orelha, esfregaram as bochechas; finalmente, com um grande grito, todo o bando saltou à frente. Mal chegaram, eis que se apoderaram dos pratos e das taças, treparam no forno, brigaram pelas camas, puxando coisas ou empurrando-as, comportando-se, em uma palavra, como verdadeiros macacos, com sua natureza maliciosa e incapazes de se manterem tranqüilos por um instante, como era de se esperar, até que por fim caíram de cansaço.

O Macaco de Pedra tomou então seu assento à cabeceira deles e disse:

— Senhores! "Com quem não tem palavra, não se faz absolutamente negócio!" * Vocês se comprometeram em tomar como seu rei aquele dentre nós que conseguisse transpor a cortina d'água e voltar. Eu não só fui e voltei, mas também retornei de novo. Além disso, encontrei para vocês uma habitação confortável para dormir, coloquei-os na situação invejável de serem donos de casa. Por que não me reverenciam como seu rei?

Assim relembrados de seus compromissos, os macacos todos juntaram as palmas de suas mãos e se prosternaram, alinhando-se de acordo com sua idade e posição social, e, inclinando-se humildemente, gritaram:

— Viva nosso Grande Rei! Possa ele viver mil anos!